Meninos, de 14 e 15 anos, aparecem espancando um ao outro em vídeo.
Imagens foram gravadas em Maringá e enviadas ao Gaeco, nesta quarta
Dois adolescentes encurralados entre duas paredes são obrigados a se estapear, diante de vozes que exigem: "Não trafiquem mais!". Se eles não obedecem ou o golpe é considerado fraco, os próprios homens que filmam a bárbarie agridem os jovens com fortes tapas no rosto. A cena é de um vídeo gravado em Maringá, no norte do Paraná, há cerca de um mês, cedido pelo Conselho Tutelar da cidade.
As imagens foram compartilhadas em redes sociais e enviadas, nesta quarta-feira (11), ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), anexas a denúncia feita pelo Ministério Público (MP-PR). As vítimas, de 14 e 15 anos, têm histórico de apreensões por tráfico de drogas e porte de arma.
O promotor Robertson Fonseca de Azevedo, responsável por encaminhar a denúncia ao Gaeco, afirma que os jovens identificaram, em depoimento, policiais militares como autores da agressão. O fato, segundo ele, ocorreu em um local ermo, sem sequer registro de boletim de ocorrência contra as vítimas na ocasião.
"Eu tomei depoimento dos meninos e eles identificaram os policiais militares. Parece que não é a primeira vez que eles são agredidos. Não posso dar detalhes, porque a investigação vai seguir, mas, com base no que eles disseram, já suspeitamos de quem seja. Agora, temos que esperar o desenrolar da história para comprovar a participação dos PMs", afirma.
Durante mais de dois minutos gravados, os jovens são insultados e ameaçados, enquanto têm de espancar um ao outro: "É briguinha de moça isso aí?", diz um dos autores do vídeo. O outro homem explica como quer que seja feito. "Se bater forte nele, você vai ficar batendo. Depois, é a vez dele. Na hora que eu falar 'deu', que foi uma boa, eu mando parar".
Com a instrução dos agressores, os golpes ficam cada vez mais fortes. Os adolescentes choram. No fim do vídeo, um outro homem, não identificado, aparece algemado. Ele é agredido pelos jovens, por determinação dos responsáveis.
O promotor compara as cenas às práticas do grupo jihadista Estado Islâmico. "Vejo a mesma lógica desse tipo de bárbarie no que faz o Estado Islâmico. Não vejo muita diferença entre as práticas: os dois filmam, agridem, torturam e se divertem com isso. Quem filmou não estava sofrendo, estava rindo. A diferença, na prática, é uma questão de cultura", teoriza o promotor.
Ele garante que a prática de agressões feitas por policiais é corriqueira na cidade. "Tenho participado de diversas audiências em que a violência policial está envolvida. Tem acontecido muito, cada vez mais. É um abuso constante. Espero que esse episódio ajude para que isso mude", comenta Azevedo.
O conselheiro tutelar Carlos Bonfim garante que os jovens foram agredidos, de novo, pelos mesmos homens, na terça-feira (11). Um deles teve dentes e um braço quebrado, afirma. "Eles são abordados direto, sem motivo. Têm passagem por tráfico, mas devem responder na Justiça, não com agressões injustificáveis".
A Polícia Militar (PM) informou que ainda não foi comunicada formalmente sobre a denúncia e que, por isso, vai aguardar receber alguma documentação formal antes de se pronunciar e, se preciso, abrir sindicância para apurar o que ocorreu.
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