domingo, 15 de fevereiro de 2015

DESTINO DE PARANAENSE CONDENADO NA INDONÉSIA SERÁ SELADO NA SEGUNDA



Último laudo médico apontou que Rodrigo Gularte apresenta sintomas de transtorno mental, uma chance para escapar da morte.


O destino do surfista paranaense condenado à morte na Indonésia por tráfico de drogas será selado possivelmente amanhã em audiência de autoridades locais com a embaixada dos países de 11 sentenciados nas mesmas condições. A reunião, de caráter informativo, vai tratar dos casos de forma genérica, o que leva a supor que seja para definir o dia da execução de todos eles, já prevista para este mês. Contudo, um laudo psiquiátrico pode livrar da morte o paranaense Rodrigo Muxfeldt Gularte, de 42 anos.
Na terça-feira, uma junta de cinco psiquiatras visitou Gularte na prisão. No dia seguinte, o laudo assinado pelo chefe da equipe, o psiquiatra H. Soewadi, atesta que “o paciente apresentou sintomas de transtorno mental crônico com diagnóstico de esquizofrenia paranoide e transtorno bipolar com características psicóticas”. O documento, obtido pela Gazeta do Povo, diz ainda que ele apresenta “alucinações visuais e auditivas”, além de pensamentos “não realistas”.

Com base nas suas avaliações, o médico recomendou a internação imediata de Gularte para tratamento. Se aceito pela Suprema Corte da Indonésia, o laudo fará com que Gularte seja transferido da prisão na ilha de Nusakambangan para um hospital psiquiátrico. Pelas leis do país, uma pessoa não pode ser executada se não estiver em plenas condições físicas e mentais. Essa é a última chance de a família evitar a execução de Gularte. Todos os recursos até agora foram em vão.
O presidente indonésio Joko Widodo já havia rejeitado o pedido de clemência da presidente Dilma Roussef em favor de outro brasileiro, o carioca Marco Archer Cardoso Moreira, 53 anos, preso em 2003 ao tentar entrar na Indonésia com 13,4 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa-delta. Condenado, foi morto por fuzilamento no último dia 18 de janeiro. Gularte foi preso em julho de 2004 no aeroporto de Jacarta com 6 quilos de cocaína escondidos em pranchas de surfe. Seu pedido de clemência também foi negado.
Nas visitas, Clarisse Muxfeldt vinha notando a deterioração da saúde mental do filho. No ano passado ela contratou uma psicóloga para avaliá-lo e em janeiro a embaixada brasileira requereu a internação num hospital psiquiátrico baseada em um diagnóstico de psicose paranoica. Diante disso, o governo indonésio encomendou uma avaliação médica que não tivesse relação com a defesa de Gularte. O resultado foi o laudo assinado na quarta-feira pelo psiquiatra H. Soewadi, recomendando a internação.
Agora, em sua oitava viagem à Indonésia para ver o filho, Clarisse chegou no domingo à Indonésia junto com a sobrinha Angelita Muxfeldt. Desde a entrega do laudo pelo psiquiatra, elas correm atrás da assinatura do diretor do presídio, necessária para que o documento seja entregue à Suprema Corte. Mesmo que a data da execução seja decidida na audiência de segunda-feira com as embaixadas dos países dos condenados, ela pode ser comutada até o momento do fuzilamento.
Gularte tem se mostrado contrário à internação num hospital psiquiátrico. Diante disso, a família chegou a cogitar seu internamento compulsório. “Ele está num mundo paralelo por causa da doença e não quer se internar porque acha que lá [na prisão] está mais seguro”, diz a prima-irmã Lisiane Gularte de Carvalho.
Rodrigo amava animais e cresceu com pranchas de surf em Caiobá
Rodrigo Gularte nasceu em Foz do Iguaçu (PR) em 31 de maio de 1972, no berço de uma família de classe média alta. O pai, o médico gaúcho Rubens Borges Gularte, hoje vive na pequena cidade de Imbuia, no Vale do Itajaí (SC), e evita falar sobre o filho. A mãe, Clarisse Muxfeldt, herdeira de uma família de produtores de soja, hoje se dedica a evitar a execução do filho na Indonésia, buscando as assinaturas exigidas pelo governo do país no laudo psiquiátrico que poderá mantê-lo vivo.
Era fã do pudim de laranja da mãe. Desde criança adorava a natureza, sabia de cor o nome das mais diversas árvores, amava cães e animais domésticos em geral. Ainda em Foz, teve um macaco chamado Chico. O amor pelos bichos perdurou. Na prisão da Indonésia, cuidava dos animais abandonados.
Aos 9 anos, se mudou com a família para Curitiba, onde adorava andar de skate na Praça da Ucrânia, no Bigorrilho. Estudou na Escola Nossa Senhora de Sion e no Positivo, onde, em geral, as notas eram “excelentes”, segundo familiares.
Rodrigo passou parte da infância e da adolescência entre a casa de praia dos pais no litoral do Paraná e a fazenda da família no Paraguai. Preferia a Praia Brava, em Caiobá, onde aprendeu a surfar ainda pequeno. Nas férias, costumava madrugar para pegar as primeiras ondas do dia, lembra a prima Lisiane Gularte de Carvalho. “Ele cresceu em Caiobá com uma prancha na mão.”
Ao completar a maioridade, provocou um acidente de trânsito em Curitiba quando estaria sob efeito de álcool. Nessa época ele fez tratamento psicológico por uso de drogas. Depois desse episódio, fez uma viagem com amigos pela América Latina. Mais tarde, conheceu os Estados Unidos e a Europa.
Duas vezes tentou abrir um negócio próprio, sem sucesso. Primeiro uma creperia em Curitiba, depois um restaurante na Lagoa da Conceição, em Florianópolis (SC), onde morou por cinco anos até ser preso na Indonésia. Se dependesse do pai, seria médico. Não deu certo. Tentou três cursos superiores, não concluiu nenhum. O último deles, Letras na Universidade Federal de Santa Catarina, o fez se fixar em Florianópolis.
Surfista, alto e boa pinta, na capital catarinense se envolveu com a professora Maria do Rocio Pereira, 13 anos mais velha, e com ela teve um filho. Jimmy Haniel Pereira Gularte hoje com 21 anos, é autista. À imprensa catarinense, Maria afirmou que logo após o nascimento Rodrigo disse não ter condições de assumi-lo. Depois da prisão, não tiveram mais contato.
A família reconhece que Rodrigo errou no caso da cocaína nas pranchas de surf, mas diz que ele nunca foi um traficante, antes um jovem cooptado pelo tráfico que fez a viagem para sustentar o próprio vício.

GAZETA DO POVO

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